O Retorno
Belvedere Bruno Aguardava, mais uma vez, seu retorno . Sabia que, num dado momento, ouviria sua voz, a princípio, fingindo indignação para, aos poucos, amaciar, tocando de mansinho todo meu ser. Por meses, acalentei o desejo do reencontro, mas me afligia o passar dos dias. Seria um teste para meus limites? Nada havia ocorrido fora do normal, em se tratando de brigas entre casais. As mesmíssimas discussões, por vezes tolas e sem sentido. Fato corriqueiro nesses quinze anos de relacionamento. Ela voltaria. Claro que sim! Estava cheio de certezas, mas, mesmo assim, decidi procurá-la. Sim, eu nunca tivera orgulho, pois meu amor ultrapassava quaisquer barreiras imaginárias. Tracei estratégias e,embora mantendo a esperança, sentia que alguma coisa estava fora dos eixos. Não sabia exatamente o quê. Como era difícil viver sem sua presença! Era como se fosse parte de mim. Por onde ela andaria ? Sentado à mesa de um bar, cercado por amigos e alheio à conversa ao redor, eu olhava para o vazio, refletindo sobre os descaminhos da vida quando, subitamente, alguém me tirou daquele estado. Era ela, sentada sozinha a uma das mesas. Aproximei-me, colocando as mãos sobre seus ombros e, com decisão, levantei meu rosto, como se perguntasse : "o que está havendo?". Poucos segundos bastaram para sentir que empreendia uma viagem que não me levaria a lugar algum . Um homem chegava, abraçando-a ternamente. Senti-me invisível. Ele parecia ocupar, de forma definitiva,aquele lugar, que hoje vejo, a despeito do tempo, nunca fora meu.
Virei-me, sem que nenhum de nós pronunciasse palavra , mas seu semblante, ao lado daquele homem, resplandecia, como nunca havia visto no decorrer de nossos dias... Senti o baque e, com ele, a doída e nunca pressentida certeza do nunca mais. belvedere
Enviado por belvedere em 04/09/2007
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