Muito difícil votar num só, dada a qualidade dos textos. Depois de muita indecisão, fiquei entre 'Marcas do Tempo', de Belvedere Bruno, e 'Devia serNatal', de Jorge Casimiro. Dois textos belíssimos. O texto do Jorge é cheiode imagens poéticas, talvez até possa ser classificado como prosa poética("E chega-me um som sustenido da memória sépia desse momento longuíssimo").Mas o texto da Belvedere acabou me conquistando, pela simplicidade convincente da linguagem de uma anciã a sofrer as inclemências da idade avançada.

Esse tema da passagem do tempo é freqüente na obra da Belvedere, pelo menosaté onde a conheço, e ela consegue tratar do assunto com muita profundidade e concisão, sem perder a leveza. Estes são os maiores méritos deste texto comovente, cuja protagonista identifiquei em outras anciãs que tive a oportunidade de observar. Acho que qualquer um aqui deve se lembrar da avó, da tia idosa, ou da própria mãe.

A falta de vontade de viver, os dias a arrastarem-se, longos, as pernas e ocorpo todo perdendo forças, a vida se esvaindo aos poucos e, finalmente, oabandono, a ingratidão, o asilo, triste realidade do nosso tempo.

Um conto primoroso, quase perfeito.

'Quase' porque, na minha opinião, faltou contundência e concisão no final.

Se me fosse permitida uma sugestão, eu terminaria o conto assim:

"Agora, cansada, todos os dias me sento, e espero..."

Abs

Denilson