Uma viagem inesperada
Uma viagem inesperada
Belvedere Bruno Quando decidi sair, após a clausura que me impus durante seis meses, deparei-me com estranha figura . Falava em tom firme sobre as qualidades dos produtos que vendia. Eram bombons e balas sortidas. Comprei e experimentei, prosseguindo meu caminho . Próximo à padaria, encontrei meu pai com as monografias das reuniões teosóficas que frequentava às quartas-feiras. Disse-me, satisfeito, que encontrara um livro de Alice Bailey que procurava há anos. Lembrou-me do aniversário de vovó que seria no final da semana. Bisa faria o bolo. Os filhos levariam salgados e bebidas. Pensei em mais um compromisso : comprar o presente dela. Talvez um CD de Glenn Miller . Segui, sentei-me na areia da praia ,e por sorte, encontrei inúmeros colegas . O que me chamou a atenção foram os trajes de praia das moças. Ousados. Depois, olhando ao redor, vi que todas estavam vestidas da mesma forma .Biquines fio-dental e asa- delta- disseram. Apenas eu parecia um peixe fora d’água. Ouvia melodioso som vindo de um rádio próximo . “Lucy in the sky with diamond”. A turma cantava junto, com empolgação, à medida que planejavam a festa de fim de semana. Onde seria e o que cada um levaria? E os burburinhos sobre quem ficaria com quem. Havia interesse entre as garotas em um jovem recém-chegado de Porto Alegre. Só falavam nos seus olhos azuis. Já anoitecia quando o “bicho-grilo”, me olhando, disse que era hora de acordar. Assustei-me . Disse que as balinhas haviam feito um bom trabalho . Uma viagem no túnel do tempo. Que bênção, refleti. Quem acreditaria nessa experiência? Mas sempre ouvi o povo dizer que eu não regulava bem da cabeça, ora! Lembrei , então, de papai , bisa , vovó . Que vontade de capturar tudo aquilo que havia vivenciado e nunca mais deixar escapar. Senti que precisava me desapegar e viver o hoje com todas as suas mazelas. Havia, no entanto, a necessidade de chorar minha saudade. E chorei o mais que pude. Retornando à casa,mendigos me abordaram, um som de funk saía não sei de onde e jovens pareciam alheios a tudo. Sirenes me atordoavam. Pessoas corriam pelas ruas perseguindo não sei quem nem por quê. Preciso, com urgência, criar roteiros que não me paralisem ou sufoquem . Saudade dos Beatles. Saudade de papai. Saudade até de Glenn Miller.
belvedere
Enviado por belvedere em 07/03/2016
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