Falando em concisão, este mini-conto (podemos chamá-lo assim?) é
surpreendente. É quase um poema. Nem uma só palavra sobra nele, o que me faz lembrar da regra áurea de Graciliano Ramos: "Escrever é cortar palavras". É isso que a Bel (posso chamá-la assim, vizinha?) faz com maestria aqui. Cortou as palavras 'de ponta cega'e deixousomente as mais afiadas, que vão direto ao assunto sem mais delongas.

Um texto que corrobora as recentes descobertas dos neuro-ciência:
"A paixão dura em média um ano." Depois disso, o que fica é uma
profunda apatia dentro da alma e o objeto do nosso amor já não passa
de um capítulo encerrado de um livro tedioso.

A conclusão é primorosa: "...a própria existência é um capítulo, com
início, e fim."

É um texto afiado, contundente, nu.

Abs e parabéns!

Denilson



Fragmentos

Belvedere Bruno



Enfim, cansara de justificar o gênio dele . O que
parecia charme, força, personalidade, agora era visto
sem cores, sem formas. Nu.
Frases intempestivas que, por tantas vezes, a
baquearam e que sempre aceitara movida pela paixão,
agora causavam uma profunda apatia dentro de sua alma
que, de modo descompassado, vibrara por aquele homem.
Como num livro, cuja leitura tediosa causa peso nas
pálpebras e conduz ao sono, ela, já cansada, deu por
encerrado aquele fragmento de sua vida, consciente de
que a própria existência é um capítulo, com início, e
fim.