Uns minutos com Belvedere

Tenho sido feliz procurando crescer dentro do que me propus.

Textos

What a wonderful world

Houve um tempo  em que não precisávamos de muitas palavras para  viver em   sintonia. A vida fluía de forma simples mas nem por isso com menos emoção.

Houve um tempo que  sequer  percebíamos a escassez das coisas.Tudo parecia perfeito, em plenitude.

Recostada  a um sofá estilo art-déco, ouço  Louis Armstrong  -  What a wonderful world... - Sua voz  eriça meus pelos  e, como uma gata, me enrosco, revendo mentalmente cenas de um passado longínquo e ingênuo,  quando simples trocas de olhares eram celebradas com tons  que só  almas puras possuem.

Narcisa, com seu carrinho de  mão,  de casa em casa, recolhendo tralhas. Era a  xepeira. Gostava do ofício.  Com voz   rouca, gritava: - Quem tem?  E a alegria explodia  a cada quinquilharia obtida . Onde arrumava espaço para tanta  desnecessidade? Por onde andará Narcisa ?

Sirenes, correrias, pivetes atacando nas esquinas, mendigos sob as marquises, sequestros-relâmpagos, chacinas. Negação da cidadania.

Procuro meus licores... Na bombonière  encontro um bombom  Sonho de valsa, o mesmo daqueles tempos cheios de louvores quase sacrossantos. Ao longe,  por coincidência, ou sinal de Deus, ouço o badalar dos sinos. Mastigo  o bombom, que se dissolve pouco a pouco  na língua, e sinto um prazer indescritível.

E os  sinos  tocam. Vibrantes. Por mim!

belvedere
Enviado por belvedere em 11/09/2005
Alterado em 10/05/2016


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