Hilário Francisconi
é natural da capital do Estado de São Paulo e radicado em Niterói desde os 10 anos de idade. Licenciado em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira pela FACEN, sempre trabalhou em áreas administrativas do serviço público, até aposentar-se, em 2009, pelo Tribunal de Justiça/RJ, onde exerceu o cargo de Analista Judiciário. e-mail: francisprov@hotmail.com Possui os cursos de: - “Oficina Jornalística” (Escola Técnica de Comunicação/RJ) - “Laboratório de Redação Criativa” (Estação das Letras/RJ) - Usina do Roteiro - Curso José Louzeiro de Dramaturgia/RJ) - “Formatação de Roteiros - Guia de Master Scenes”, ministrado pelo roteirista inglês Hugo Moss. Obras publicadas:: Pela Editora Baraúna/SP: “O Enigma do Lago”, Romance. No site www.clubedeautores.com.br: “O Menino e o Mar”, crônicas. “Contos do Sótão”, contos. “Notas de Atônnito Perplexus”, humorismo. “Signos de Bernardo”, crônicas. “As Cartas do Dr. Arquétipo Golden”, cartas satíricas. “Argumentos e Roteiros para Curtas”. “Estação da Névoa”, crônicas e contos. “EU?!”, comédia teatral. “As Amigas do Dr. Afrânio”, comédia teatral. “O Monólogo de Atônnito Perplexus”, comédia teatral. - Assina uma coluna de crônicas no “Jornal Santa Rosa”, em Niterói. 1-Que tipo de sentimentos ou cenários costumam lhe inspirar? - Penso que a ‘inspiração’ para a arte criativa da escrita esteja no entorno de todos nós, impregnada no ar que respiramos e solícita a qualquer pessoa predisposta a aspirá-la. O importante é a observação, o olhar atento do cronista (todo escritor é, em essência, um cronista); a percepção da minúcia, a elaboração ligeira da síntese sobre um fato qualquer, pois a ideia - a tal da inspiração - é fulminantemente passageira e escorregadia. Daí para a frente, resta-nos o trabalho árduo, puramente intelectual, para o garimpo das letras que vieram com a ideia. 2- Teve influência de alguns autores no início de sua carreira? - Somos ‘bombardeados’ por contingências da vida desde o nosso nascimento. Afinal, “o homem é produto do meio”, não é verdade? Contudo, há influências marcantes que podem direcionar o sujeito para uma vertente mais específica. A principal delas, acredito, seja a motivacional. Por isso, não citarei autores. Prefiro enaltecer, também sem citá-las, as pessoas que, de uma forma ou outra, contribuíram para a formação da minha visão do mundo. Com o tempo, vamos nos motivando, numa via crucis progressiva, ampliando a nossa visão geral, e acabamos, durante o caminho, selecionando as ‘influências’ que, na verdade, já estavam em plena gestação no nosso plano consciente. É quando dá-se o salto – a quebra do elo que nos ligava a tudo que nos influenciava – e mergulhamos no mar de coisas que vivem em sintonia com o que pensamos. Então tudo flui conforme o nosso pensamento. Já escreveu o poeta Mário Quintana: “Não há influências, mas, confluências”. 3- O que o motivou a ingressar na vida literária? - Um impulso natural. Como disse, quando há motivação direcionada o processo – embora doloroso e longínquo - flui espontaneamente. De uma forma geral, damos início à aventura com alguns versos. De quando em vez, com algumas confissões. E ficam lá, no caderno ultrassecreto (conforme a nova ortografia!), e de onde, penso, jamais deveriam sair! Faltam, ainda, as ‘influências’ e, principalmente, as confluências... 4- Quando teve certeza em relação ao momento de publicação de suas obras? Acho que não deva haver um momento exato para publicações, como aquele de se retirar um bolo do forno. É que algumas receitas são falhas e eu prefiro as naturais. Por isso, assim como se colhem do pé os frutos maduros, assim devem ser retirados da gaveta os textos quando amadurecidos e prontos para o consumo. 5- Quais os seus métodos de elaboração da escrita? - Eu sempre invejei os metódicos, aqueles que sabem dividir as 24 horas de um dia em setores claros entre o fazer isto e aquilo. E cumprem. Também admiro os que fazem planos e elaboram esquemas para os seus projetos, literários ou não. De minha parte, não me ressinto de confessar ser uma pessoa completamente desorganizada. Posso inaugurar o dia lendo ou escrevendo; posso terminá-lo escrevendo ou lendo. E no meio desse processo sou impelido a interromper uma leitura no seu clímax para dar início a uma crônica que, por sua vez, pode ter o seu desenvolvimento negligenciado para retornar à leitura. Mas, para não dizer que sou isento de toda e qualquer regra, jamais escrevo de forma manuscrita. E não por tratar-se de uma suposta mania ou preconceito, mas, terminantemente, por não entender, dez ou quinze minutos depois, a minha própria letra. Há quem tenha desenvolvido uma invejável caligrafia; eu, sem dúvida, carrego comigo uma indecifrável ‘cacografia’. 6- Que conselhos daria aos que aspiram seguir essa arte? - Que leiam. Muito e tudo. Inclusive bulas de remédio. 7- Sente-se realizado com sua produção literária? Penso que realizar-se é aposentar-se da vida. Ainda tenho tudo para aprender. Tudo para ler. E a cada dia chegam novas bulas de remédio... 8- Quais as dificuldades que observa no universo literário? - A ênfase empreendida, por parte de nossas editoras, às traduções e produção de livros estrangeiros em detrimento de lançamentos nacionais de nossos novos e competentes autores. 9- Deixe uma mensagem Dia desses estive pensando seriamente sobre o que, de fato, a vida espera de cada um de nós. Agora, quero aproveitar esta oportunidade para expressar aquilo que, talvez, considero ser de suma importância: para a natureza não importa o homem, enquanto matéria, e sim o seu legado. 9- Poderia oferecer ao leitor um pequeno texto de sua autoria? - Com prazer. O menino e o mar. “Olha a praia, mãe!” E foi só o que ouvi. Na costumeira pressa matinal, o garoto vinha arrastado pelo bracinho por uma senhora mais forte que o mundo, defronte a Estação das Barcas, em Niterói - que a vida é um eterno conflito e não pode parar. “Olha a praia, mãe!” Esse imperativo, por demais pungente, não me saiu da cabeça durante o dia inteiro. Pude notar, antes que os dois se misturassem à multidão, que aquela senhora não atendeu à súplica infantil. Ela não olhou o mar; não olhou o menino. Apenas seguiu em frente, como todos os outros que nada olhavam naquela manhã invisível. Embora o menino não conseguisse transmutar o seu sentimento em código linguístico, o seu espírito, que entende tudo, processou: “Será que mamãe olhou para o mar quando me ouviu? Será que mamãe olhou para mim quando ouviu o mar?” Tocado pelo cheiro da maresia, uma versão da madeleine de Proust me fisgou e eu incorporei aquele menino. E vi o mar da minha infância que me invadia os poros com o seu fluxo feiticeiro, e as suas vagas, belas e infinitas, iam quebrar na encosta da minha alma; vi abrir-se à minha frente a imensidão azul, serena e enigmática, que me levava sobre as suas águas para um outro mundo, talvez o da fantasia, talvez o da genuína realidade. Mas ainda pude ouvir, por um desses processos mágicos, o espírito do menino pela última vez: “Esse mar, suplicante, é um poema vivo que a mamãe não leu...” “Olha a praia, mãe!...” . belvedere
Enviado por belvedere em 04/08/2013
Alterado em 04/08/2013 |