Uns minutos com Belvedere

Tenho sido feliz procurando crescer dentro do que me propus.

Textos

O vazio do tempo
O vazio do tempo                                                      


Belvedere Bruno


  Saudade sim. Saudade de um tempo colorido, em que se andava pelas ruas e se viam crianças brincando com  bola de gude, jogando vôlei, trocando figurinhas. Vizinhança que mais parecia  extensão da família. Pedir isso ou aquilo emprestado, receber e retribuir doces caseiros,  bolos quentinhos e, com fervor,  abrir as portas  à  visita itinerante de Nossa Senhora.
   Para onde foram os meus cenários? O que foi feito das casas, dos muros multicores, dos canteiros?
   Desconstruções. Medo. Não sei onde deságuo esse incômodo, essa agonia.  Flashes vêm  e vão, até que nada reste, sequer em minha imaginação. Perco  referências e  sinto-me  diluir no  dia a dia.
   Queria, ao anoitecer, voltar a brincar de roda, ver o  velho vendedor de amendoim torradinho, e  tentar, sem nunca  aprender, a rezar o terço.  Quanta nostalgia, dirão. Pudessem  invadir minha alma. Talvez assim entendessem.
   "Acalma teu coração, sai desse  desassossego", diz meu  eu  interior.  Tento, mas dói fundo ver tantos tesouros  desfigurados. Nada resta. Como não ter saudade se no lugar dos canteiros há grades; no lugar dos vizinhos amorosos, seres monossilábicos; no lugar das crianças, solidão de alegria?
  Em devaneio, percorro as ruas. Sinto  o ar puro, inspiro  e expiro.  É delicioso  o  aroma das flores, a liberdade no transitar. Mentalmente, saboreio amoras e  pitangas.  Os morangos, ah! lembro bem que nunca cresciam. Esperava, esperava,e nada. Mas ficava feliz só de vê-los nascer.  Saudade.
belvedere
Enviado por belvedere em 01/11/2011
Alterado em 08/07/2015


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