O homem e as flores Belvedere Bruno Rosane não escondia sua insatisfação. Marcos sempre fora um homem de metáforas. Enquanto ela continha diques, enfrentava tsunamis e erupções vulcânicas, ele mastigava pétalas de rosas . Ela era ação. Ele, meditação. Puro antagonismo. Nunca se soube porque um dia decidiram que, ficar juntos, seria o melhor para equilibrar as diferenças . O tempo apenas as fortaleceu. Rosane dizia : - Cansei de viver com um sonhador. Sou pé no chão, gosto de tudo às claras. Odeio subterfúgios ! Marcos respondia calmamente : - Retire as rosas pálidas do buquê e deixe apenas os botões .Aguarde o florescer. - Rosane se inquietava, vociferando : - Raios! Você com essa eterna mania de poesia! Estamos falando sobre a vida, o dia-a-dia, o desgaste de nosso relacionamento e você só raciocina em forma de versos ? - Mas Marcos nunca abandonou o lirismo, avesso que era às coisas densas da vida. A poesia era o seu porto seguro. Morreria assim, mesmo se chegasse aos cem anos, dizia. Crucial o viver daqueles dois amantes. Rosane era exuberante em sua clareza. Marcos se encolhia no constante degustar de flores. Um dia, sem justificar o ato, Rosane destruiu o jardim da casa. No lugar das flores, surgiu uma piscina térmica altamente sofisticada. Marcos, engolindo suas lágrimas, deu adeus às rosas, tulipas, gérberas, palmas, samambaias e avencas. Anos depois, num canto da casa, escreveria, em versos, a história de sua vida, alheio a tudo e a todos. Acompanhava-o um copo de suco de flores, com dois cubos de gelo . Dos seus olhos, pingavam lágrimas perfumadas. belvedere
Enviado por belvedere em 30/05/2008
Alterado em 18/01/2010 |