Uns minutos com Belvedere

Tenho sido feliz procurando crescer dentro do que me propus.

Textos






Ontem, após o show de Luiz Melodia, eu e minha sobrinha Paola decidimos rodar pelo bairro de Icaraí. Quando passamos por determinada rua, meu coração bateu mais forte.


Pedi, então, que parasse ali, diante da casa de Sara, lugar de doces recordações adolescentes.


Como em um filme, vi-me transportada para os bailes que fazíamos nos fins de semana, os preparativos, as mesas no amplo quintal cheio de flores e árvores frutíferas.


Ouvi Taninha, irmã mais nova de Sara, tocar piano e vi seu Osório, o pai, puxando o bigodinho, sentado na cadeira de balanço, e se deliciando com o fruto do talento da filha... Ela era uma exímia pianista, contrastando com a falta de dons artísticos das demais senhoritas da turma.


O som das melodias ecoavam no fundo de minha alma... Eu revia todos aqueles sorrisos e também sorria. Festas, período de ilusões... Deliciosas ilusões!


Um arrepio percorreu meu corpo ao relembrar o primeiro beijo, trocado na varandinha, que era toda decorada à moda antiga. Como curtia ficar ali! Os namoricos iam e vinham, porém o primeiro beijo rendeu emoções inenarráveis na época.


Mergulhada nas lembranças, parecia ouvir as vozes... Senti como se Taninha e Sara me chamassem. Tudo tão nítido! Os passarinhos cantavam, e Rex, como sempre, na sua candura, balançava o rabinho ao me ver chegar...


Paola, então, me sacode e pergunta: "Vai ficar olhando para essa clínica de oftalmologia até que horas?" E voltei à realidade com uma avalanche de lágrima querendo explodir, e que a muito custo consegui conter.


Como explicar tudo à Paola? Ela jamais poderia imaginar aquele universo tão rico, no qual um dia vivi.


Ligamos o rádio e começamos a ouvir Marisa Monte: "Já sei namorar, já sei beijar de língua, agora só me resta sonhar..."


E a conversa começou a girar sobre os temas atuais...




belvedere
Enviado por belvedere em 18/09/2005
Alterado em 18/09/2005


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Tela de Claude Monet
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