Uns minutos com Belvedere

Tenho sido feliz procurando crescer dentro do que me propus.

Textos

O vínculo (ainda em elaboração)

O Vìnculo

Belvedere Bruno:

     À  medida que os ponteiros do relógio avançavam, aumentava o desconforto de Margarete. Aquele revirar na cama noite adentro parecia durar uma eternidade.  Um toque na porta do quarto a retirou daquele estado. Então viu Oscar que, nervosamente, lhe disse:  - Margarete,  me dá  uns comprimidos pra dormir.-  Balançando a cabeça, ela respondeu:  -Não uso essas coisas.-
     O golpe que atingira a família parecia incompreensível. Discussões incessantes em torno do fato. Oscar, impaciente, mais uma vez perguntou : -O que aconteceu? Tem coisa escondida aí! - Margarete respondeu com rispidez: - Exatamente como contei. Tentativa de  assalto com tiro fatal. - Ao que Oscar retrucou: -Já ouvi diversas  versões. No início era bala perdida.-  Cético, mostrava que as respostas  não o satisfaziam. Procurava um sentido para tudo aquilo. Irritada, Margarete deu fim ao falatório. -Cala a boca, Oscar!  Volta pro teu canto. Pra que ficar nesta casa?-
     Oscar sabia que sentiria profunda solidão e dor . Perdera a mãe em tenra idade e dela não tinha lembranças. Seu vínculo sempre fora o pai. E agora, nada mais restara.  A curiosidade entre a vizinhança o incomodava. Quando saía, era apontado: - Olhe,  é o filho do cara que mataram!- Seria mesmo  melhor sair dali. Além do sofrimento causado pela  ausência do pai, lhe incomodava o jeito frio de Margarete. Nenhum sinal de solidariedade. Por vezes, sentia-se um ser invisível, tamanha a indiferença . Teria ela algum dia amado aquele homem ?
     Na manhã seguinte, Margarete bebericava um uísque à beira da piscina. Oscar, com uma mochila nas costas, balançava o chaveiro rumo à garagem. De repente, voltou-se para ela e disse:   -Tenho meus direitos de filho, não se esqueça!-
      Meses depois, em  seu pequeno apartamento, pensativo, ouvia "In my life", dos Beatles, a preferida de seu pai. “Some are dead and some are living/ In my life, I"ve loved them all. Sabia  que as investigações não fluíam. Tudo permanecia envolto em mistério.
-O que, de fato, acontecera? - perguntava a todos que encontrava, despertando compaixão. Tornara-se um homem em constante estado depressivo . Com o passar do tempo, as pessoas se afastaram. E assim, Oscar foi se isolando.
     Vivendo na casa que herdara após a morte de Margarete, rememorava inúmeros fatos da infância, fixando-se na figura paterna.   Como, tão inesperadamente, perdera aquela referência em  sua vida?- pensava.– Ouve, então,  o som  característico de um mergulho, sentindo os respingos da água gelada em seu corpo. Uma voz infantil chega até ele: - Vô! vem  dar aquele salto  maneiro!-  E Oscar volta ao hoje. À sua volta, família e amigos conversam animadamente.
belvedere
Enviado por belvedere em 21/05/2012
Alterado em 16/08/2012


Comentários

Tela de Claude Monet
Site do Escritor criado por Recanto das Letras